quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Relações de Poder, conceitos

O Estado no Brasil resultou de uma enorme operação de conquista e ocupação de parte do Novo Mundo, empreendimento no qual se associaram a Coroa portuguesa, através dos seus agentes, e a Igreja Católica, representada primeiramente pelos jesuítas. Política e ideologicamente foi uma aliança entre o Absolutismo ibérico e a Contra-Reforma religiosa, preocupada com a posse do território recém descoberto e com a conversão dos nativos ao cristianismo. Naturalmente que transcorrido mais de 450 anos do lançamento dos seus fundamentos, o Estado brasileiro assumiu formas diversas, sendo gradativamente nacionalizado e colocado a serviço do desenvolvimento econômico e social.
Em primeiro lugar, o que significa, hoje, ser brasileiro? Somos tantas culturas, tantos brasis, tantas misturas, que se pode dizer que somos ninguém. Mas também se pode pensar o contrário: o amálgama cultural e étnico que nos dá estofo possibilitou o surgimento de uma nova identidade, que concilia todas aquelas que a formaram. Sem dúvida, estas concepções são diametralmente opostas.
Mais ainda: reduzem o problema em questão a uma bipolaridade simplificadora. É necessário ampliar as possibilidades de interpretação das questões da etnicidade e da identidade - especialmente aquela surgida a partir dos imigrantes - no Brasil.
O que é ser brasileiro? Será mesmo que faz sentido falar desse "ser"? É fácil afirmar a existência da nação brasileira, se atentarmos apenas para os aspectos geográficos, jurídicos ou diplomáticos. E definir a identidade brasileira como o atributo, a etiqueta do conjunto populacional, ou dos indivíduos, que vivem dentro desse quadro formal.
Mas parece que Nação e identidade nacional exigem algo mais. Como, por exemplo, um consenso em torno de certos valores, e uma diferença entre ele e outros tipos de consenso, ou entre diferentes consensos nacionais. Ora, desde os fins do século XIX, muitos têm duvidado seja da coesão brasileira seja da diferença específica do Brasil.
Hoje essas dúvidas se acham reforçadas, face às três categorias de indagações:
a) Como poderia haver consenso de base num país caracterizado historicamente por consideráveis desigualdades econômicas, sociais, culturais e políticas - entre classes, etnias e regiões - e, no momento, pelo agravamento das dificuldades sócio-econômicas? Principalmente se observarmos o aumento da marginalidade, da criminalidade, do "enclausuramento" dos ricos e poderosos - fenômenos que parecem assinalar, aos olhos de alguns, a ressurreição, perversa, de uma sociedade de estamentos.
b) Como poderia o nível nacional manter uma significação central de identidade nacional, se o que presenciamos é a proliferação das identidades locais, de bairro em particular?
c) Não é também o nível nacional minado por cima, devido ao crescente cosmopolitismo da cultura? Mesmo porque esse cosmopolitismo não é igualitário, e repercute no seu âmbito as dissimetrias e desigualdades que acompanham a internacionalização da economia.

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