domingo, 16 de maio de 2010

Análise de conteúdo em jornalismo

De acordo com Heloiza Golbspan Herscovitz, a análise de conteúdo da mídia é um método de grande utilidade na pesquisa jornalística. Serve para detectar modelos na análise de critérios de noticiabilidade, enquadramentos e agendamentos. Serve também para classificar gêneros, produtos e formatos do jornalismo, para assim avaliar grupos e organizações para comparação do conteúdo jornalístico de diferentes mídias em diferentes culturas.
A freqüência com que as pessoas, lugares e situações aparecem na mídia pode-se comparar o conteúdo transmitido com referência como, por exemplo,a porcentagem de pessoas negras nos telejornais e o tratamento que recebem com a porcentagem de afro-brasileiros no Brasil segundo o IBGE. A análise de conteúdo da mídia ajuda a entender um pouco sobre quem produz e quem recebe a notícia e também, estabelece alguns parâmetros culturais e a lógica organizacional por trás das mensagens. (SHOEMAKER & REESE, 1996).
A análise serve para avaliar um grande volume de informação, imagens, frases, parágrafos, sons podem ser reduzidos a categorias baseadas em regras explícitas, com objetivo de fazer inferências lógicas sobre mensagens.
A análise de conteúdo promove uma integração entre o conteúdo que é visível e o que é oculto, e é incluído em um mesmo estudo para que se compreenda o significado, o contexto, o meio de comunicação que o produz e o público ao qual ele é dirigido.
A análise de conteúdo jornalística é o método de pesquisa que recolhe e analisa textos, sons, símbolos e imagens impressas, gravadas ou veiculadas em forma eletrônica ou digital encontrados na mídia, a partir de uma amostra aleatória ou não dos objetos estudados.

Fundamentos e conceituação


A análise de conteúdo pode ser empregada em estudos exploratórios, descritivos ou explanatórios. Um investigador competente começa sempre por uma pergunta ou hipótese que fará a conexão entre teoria e investigação. Como regra, não se trabalha com generalizações universais nas ciências sociais; menos ainda quando se utiliza a análise de conteúdo , método centrado em definições operacionais individuais que buscam desvendar pistas de textos, símbolos, sons e imagens.
Quando se pensa no que investigar, é preciso definir a unidade de análise a ser observada.


Seleção de amostras aleatórias e não-aleatórias

Quando utilizada a abordagem qualitativa, o termo utilizado para parte da população de objetos estudados é corpus e as formas para obtê-lo são conhecidas dos pesquisadores em jornalismo. Além disso, obedecem a critérios conceituais e não levam em conta a representatividade do material. Cada uma das escolhas requer uma justificativa. Muitas vezes, refletirá mais os recursos disponíveis de quem pesquisa do que o rigor ou a lógica da amostragem, fatores aceitáveis embora possam interferir na qualidade dos resultados.
As técnicas de amostragem na análise de conteúdo funcionam bem. São econômicas, poupam tempo, são confiáveis (BARBETTA, 2004). Pode-se criar uma amostra por julgamento devidamente justificada ou uma amostra estratificada dos materiais a serem analisados utilizando as datas do calendário como referência.

Classificação e interpretação do conteúdo

Depois de resolvidas as questões sobre o que e onde analisar (amostra), é preciso pensar em como analisar.
Quase tudo que se mede na análise de conteúdo jornalístico são conceitos. Pense, por exemplo, nos conceitos abstratos de liderança, liberdade de imprensa, religiosidade, preconceito, performance, liberal, radical, alienação, pressão social, prestígio, status. São construções baseadas em observações indiretas e definições teóricas que variam conforme a perspectiva de cada um. Para se trabalhar com estes conceitos é preciso especificá-los com precisão, estabelecendo os indicadores e os atributos do que queremos medir, de modo que quem lê os resultados de uma análise de conteúdo conheça de antemão as categorias exclusivas utilizadas pelo investigador. Portanto, o processo de conceituação precede o de classificação do conteúdo. É preciso também estabelecer a definição operacional, que esclarece como o conceito será medido na amostra.
Todos os editoriais da amostra terão de ser codificados, mesmo aqueles considerados sem postura aparente. A postura dos jornais sobre a política econômica do governo será verificada sob dois enfoques: a análise de conteúdo quantitativa e a qualitativa, que devem produzir resultados congruentes.

Dilemas da unidade de registro

São definidas a partir do tema da pesquisa, das teorias que informam o trabalho, de estudos anteriores e dos próprios textos a serem analisados. Weber (1990,p.21-23) oferece algumas opções de unidades de registro:
Palavra: Talvez a menor unidade de registro em textos, porém implica problemas de difícil solução.
Frase: Uma frase inteira pode tornar-se uma unidade de registro quando o pesquisador está interessado num grupo particular de palavras que podem significar uma referência positiva, negativa ou neutra em relação a um tema. Tema: A codificação por tema é a mais comum em análise de conteúdo e em geral produz resultados positivos.
Parágrafo: Na ausência de computadores e sob a pressão de recursos humanos limitados, alguns pesquisadores optam por codificar parágrafos inteiros. As evidências, de acordo com Weber (1990,p.23), indicam baixa qualidade em análises de conteúdo que utilizam parágrafos como unidades de registro.
Texto inteiro: Weber (1990) recomenda a utilização de textos inteiros como unidades de registro no caso de manchetes, editoriais, notícias e reportagens curtas para contagem de freqüências de categorias de conteúdo manifesto.

Computador X lápis e papel

Weber (1990) sugere a combinação de diferentes unidades de registro cruzadas por programas de computador que incluem modelos de análise regressiva e de grupo. À medida que os programas de computador tornam-se mais sofisticados e acessíveis, aumentam as chances de se codificar uma grande quantidade de textos antes impossível de ser feita com lápis e papel.

A codificação por tema ou texto inteiro não requer o uso de programas de computador específicos para análise de conteúdo. As análises de conteúdo sobre a mídia disponível na internet tornam a codificação por lápis e papel obsoleta. Unidades de registro como homepages, wbsites, hipertexto, interatividade e outras requeremo download (baixamento) de páginas online e outras atividades específicas desta nova tecnologia que prevê o uso de computador em todas as etapas, da codificação à interpretação.


Validade em análise de conteúdo


A validade em análise de conteúdo percorre várias etapas do processo de construção de uma pesquisa. Segundo Bauer (2002, p.208), refere-se em parte a até que grau o resultado representa corretamente o texto. Conforme Weber (1990, p.18) e Babbie (1989, p.124-125), ao grau de correspondência entre uma categoria de análise e o conceito abstrato que a representa, cobrindo todos os significados incluídos no conceito (validade de conteúdo). Para afirmar que um estudo tem validade é preciso garantir que os resultados da análise não extrapolam a amostra nem foram obtidos em razão de outros fatores como erros sistemáticos ou casuais provocados por interferências de outras variáveis não-controladas.
Há várias maneiras de aumentar o grau de validade em uma pesquisa, entre elas a prática de refinação dos conceitos abstratos, que devem ser exaustivamente pré-testados; a utilização de mais de uma medida para evitar distorções; e a certeza de que se trabalha com uma amostra de tamanho adequado.


Fidedignidade em análise de conteúdo

Fidedignidade refere-se ao nível de garantia de que uma medida, se repetida, vai dar o mesmo resultado, evitando discrepâncias. Treinamento para codificar corretamente, categorias claras e bem definidas, referenciais de codificação fáceis de serem memorizados e amostras bem selecionadas ajudam a aumentar o grau de fidedignidade da pesquisa.
Entre as várias maneiras de garantir o grau de fidedignidade de uma pesquisa estão a realização de vários pré-testes, o treinamento intenso dos codificadores e a checagem de categorias para reduzir o nível de ambigüidades e aumentar a precisão das medidas.
Os resultados da análise de conteúdo são apenas um mapeamento de tendências e intenções e não a realidade em si, porque esta dificilmente é apreendida através da análise de textos, símbolos, sons e imagens. Por outro lado, a repetição de uma mesma medida com resultados semelhantes indica que há um grau de objetividade nos procedimentos científicos, embora ainda distante do ideal.


Vantagens e desvantagens do método

O analista de conteúdo não tem nenhum efeito sobre o objeto de estudo no sentido de que não pode modificá-lo, embora possa falhar na sua interpretação.
Quando a análise de conteúdo falha, é fácil rever as categorias e refazer parte da codificação dos textos. A virtude do método é a possibilidade de analisar uma grande quantidade de informações por um longo período de tempo, observando tendências em diferentes momentos históricos.
A análise de conteúdo tem também desvantagens. Consome bastante tempo e exige dedicação. Limita-se às informações registradas pelos meios de comunicação e, portanto, não pode analisar o que está ausente. Está sujeita a produzir interpretações errôneas e simplistas, principalmente quando se apóia apenas na contagem de palavras por computador.


Sinopse para Análise de Conteúdo

1) Teoria, hipótese ou pergunta e justifcativa.
2) Conceituação, definições nominais e operacionais.
3) Seleção de população, amostra, período, elementos etc.
4) Pré-teste, refinamento conceitual e treinamento para codificação.
5) Criação de livro de códigos para registro, de preferência por computador.
6) Codificação por 2 codificadores para análise quantitativa e qualitativa.
7) Tabulação dos resultados, interpretação e inferências das análises quantitativa e qualitativa.

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