sexta-feira, 21 de maio de 2010

Manual de vídeo

Referências: Santos, Rudi
Manual de vídeo/Rudi Santos. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 1993.





No capítulo 1, Decupar é dividir o filme ou o vídeo em planos. O plano é um segmento de imagem contínua compreendido entre dois cortes, ou seja, é a imagem registrada durante o intervalo de tempo no qual a câmera está ligada, gravando uma cena: em relação ao enquadramento, o plano é classificado de acordo com o tamanho da figura humana dentro do quadro. Decupar, então, é reunir uma série de fragmentos de imagem contínua, filmados ou gravados sob diversos ângulos e com pontos de vista diferentes.
Um conjunto de planos chama-se cena, e um conjunto de cenas chama-se sequência. Comparando-se um filme (ou um vídeo) com um livro, pode-se dizer que as sequências seriam os capítulos, as cenas seriam os parágrafos relacionados com a mesma ação ou com o mesmo cenário e os planos seriam as frases. Por exemplo: o nome de um livro é Morte à Meia noite. Este livro é a estória de um maníaco que assassina várias mocinhas sempre à meia noite. O segundo capítulo é a Morte de Vera. O capítulo A Morte de Vera seria a sequência 2 do vídeo. No capítulo 2 existem três cenários diferentes: o escritório, a rua e a casa de Vera. O escritório seria a cena 1, a rua seria a cena 2 e a casa de Vera seria a cena 3. O enredo é mais ou menos o seguinte: são onze e meia da noite. Vera trabalha no escritório quando recebe um ameaçador telefonema anônimo. Ela fica com medo e sai apressada. Na rua, Vera acha que está sendo perseguida e foge, apavorada, para casa. Lá, durante o banho, ela é assassinada. A sequência 2-Cena 1 pode ter vários planos. Por exemplo: plano conjunto do escritório, Vera trabalhando, corta. Close do telefone que toca, corta. Panorâmica em plano médio acompanhando Vera até o telefone, corta. Close do relógio na parede indicando 23:30, corta. Zoom in de plano americano até primeiríssimo plano de Vera, que está assustada com as ameaças anônimas, corta. E assim por diante. O plano em que Vera atende o telefone e fica apavorada é o Plano 4 da cena 1.
Na cena 2, Vera anda pela rua e tem a sensação de que alguém está atrás dela. Neste caso, para provocar um clima de tensão, é aconselhável decupar a cena com planos de curta duração e muita movimentação de câmera. Costuma-se chamar de Take cada tomada de cena, ou seja, take é o registro repetido do mesmo plano. Por exemplo: se na cena 1- Plano 4 Vera não interpretasse bem seu papel e o diretor não gostasse do trabalho da atriz, ele pediria para repetir a ação. A primeira gravação do plano 4 é o take1. A segunda é o take 2 e assim por diante. No cinema, quando o diretor não gosta do plano, é sempre necessário filmar novamente, gastando cada vez mais película virgem. No caso do vídeo, as fitas magnéticas podem ser desgravadas e gravadas a qualquer momento permitindo o registro de apenas um take de cada plano. Se o material não ficou bom, basta rebobinar a fita e gravar tudo de novo.
A cena é a reunião dos planos que estão diretamente relacionados com a mesma ação principal ou com a mesma locação. A cena está ligada ao cenário, pois é comum uma determinada ação começar e terminar na mesma locação. De qualquer forma, é aconselhável relacionar a cena com uma ação importante da sequência.
Em uma longa metragem de cinema é comum encontrar cerca de seis ou sete sequências, que são os seis ou sete eixos de ação dramática do filme. As sequências estão misturadas entre si, é possível, por exemplo, encontrar cenas da sequência 4 na sequência 2. Um filme clássico-narrativo normalmente tem uma sequência principal forte, correspondente ao eixo de ação central. As outras sequências paralelas servem para reforçar a ação da sequência principal. Os filmes de Hitchcock são um bom exemplo de decupagem. Em Psicose, na famosa cena do assassinato no banheiro, foram utilizadas cerca de setenta posições de câmera em 45 segundos de filme. Em outro extremo, Hitchcock realiza um filme com um único plano sequência, que é a filmagem de uma única sequência em um único plano.
A arte da decupagem é um dos segredos fundamentais para a direção de um enredo. Um bom diretor de cinema ou de televisão é aquele que, além de dominar o lado estético da realização, domina também a divisão do filme ou do vídeo em planos. A decupagem pode ser clássica ou não. Um exemplo de diretor que trabalha com a decupagem clássica é Spielberg e, no outro extremo, pode-se citar Godard, que constrói seus filmes com um tipo de decupagem diferente do ponto de vista narrativo convencional.
No caso específico do “ teatro filmado” não existia um trabalho de montagem, e o corte era utilizado quando havia mudança de cenário ou quando se indicava a passagem do tempo. Sendo assim, o corte não representava efetivamente uma descontinuidade visual.
O que diferencia o “teatro filmado” dos filmes realizados posteriormente é a introdução do corte no interior de uma cena, ou seja, a câmera registra o desenrolar da ação sob diversos ângulos, aproximando-se e afastando-se dos objetos, mostrando ação completa em planos. A ação, que foi registrada em vários planos, apresenta-se ao espectador como uma ação contínua e, o corte passa despercebido. Mesmo no caso de duas cenas construídas com uma técnica conhecida como “montagem paralela”, que é a utilização de cortes alternados relacionando acontecimentos simultâneos, a descontinuidade visual é justificada graças à continuidade da narrativa. Nesse caso o corte também não é notado e a cena total é percebida como um conjunto de ação contínua.
A decupagem clássica é a divisão do filme ou vídeo em planos, de modo que a narração apresente-se lógica, clara, contínua, coerente, suave e linear. O corte torna-se invisível e o espectador não percebe a mudança de enquadramento.
Na prática, não existe uma delimitação precisa para os planos em relação ao tipo de enquadramento. O referencial é o tamanho da figura humana dentro do quadro.
Os planos cinematográficos são classificados da seguinte maneira: Grande Plano Gera, Plano Geral, Plano Conjunto, Plano Médio, Plano Americano, Primeiro Plano, Primeiríssimo Plano e Plano Detalhe. O Grande Plano Geral – GPG é o plano típico do cinema. Tem como principal função descrever o cenário. Por ser um plano com ângulo de visão muito aberto é impossível perceber a ação ou identificar os personagens. Devido à grande quantidade de pormenores, o GPG necessita de um tempo maior de projeção, para que o espectador perceba os detalhes da imagem. No cinema, um grande plano geral tem uma duração variando entre 8 e 12 segundos.
O plano geral possui um ângulo de visão menor que o GPG. Percebe-se a figura humana, porém é difícil reconhecer os personagens e a ação. O PG é um plano descritivo e serve para mostrar a posição dos personagens em cena. No cinema, o PG tem duração de 5 a 9 segundos.
O plano conjunto apresenta o personagem no cenário, e permite reconhecer os atores e a movimentação em cena. A ação não é visualizada nos mínimos detalhes. O PC é um plano com caráter descritivo e narrativo, com uma tendência maior para a descrição, já que as ações não são percebidas. No cinema, a duração de um PC varia, em média, de 4 a 8 segundos.
O plano médio é aquele que enquadra o ator em toda a sua altura. O PM tem uma função narrativa, pois ação tem maior impacto na totalidade da imagem. No cinema, o PM tem duração aproximada de 3 a 7 segundos.
O plano americano é aquele que enquadra o personagem acima dos joelhos ou acima da cintura. O PA é um plano que privilegia a ação em relação ao cenário e, no cinema, costuma ter a duração de 3 a 7 segundos.
O primeiro plano é aquele que corta o personagem na altura do busto. Em um PP fica mais fácil para o espectador perceber o estado emocional dos atores e a direção dos olhares. O PP tem um caráter mais psicológico do que narrativo. No cinema, tem duração de 2 a 6 segundos.
Em um PPP, o rosto ou uma parte do rosto do personagem ocupa toda a tela. A ação não é percebida, levando a atenção para o lado emocional. O PPP também pode ter uma função indicativa. O Primeiríssimo plano tem duração de 1 a 3 segundos.
O plano detalhe destaca um pormenor do rosto ou do corpo do ator, o que resulta em uma imagem de grande impacto visual e emocional. Quando o PD não enquadra um detalhe da expressão facial, pode-se ter uma função indicativa. O PD necessita de um tempo muito reduzido para identificação dos objetos em cena. No cinema, costuma ter de 1 a 2 segundos.
É comum classificar os planos cinematográficos utilizando-se a terminologia dos americanos. S.L.S – Super Long Shot (Grande Plano Geral), E.L.S – Extreme LOng Shot (Grande Plano Geral), L.S – Long Shot (Plano Geral ou Plano Conjunto), M.L.S – Medium Long Shot (Plano Conjunto), M.S – Medium Shot (Plano Médio ou Plano Americano), C.U – Close –Up (Primeiríssimo Plano), V.B.C.U – Very Big Close-Up (Plano Detalhe), E.C.U – Extreme Close-Up (Plano Detalhe). As classificações anteriores referem-se a planos estáticos, ou seja, enquadramentos onde não existe movimentação de câmera. Um plano geral pode ser utilizado com um fim psicológico ou com caráter descritivo.
Em televisão, a classificação dos planos é diferente da utilizada para o cinema. Isto se deve às dimensões da tela de TV. Os enquadramentos para a TV são: Grande Plano Geral: GPG ou Extreme Long Shot – E.L.S, este plano é o que permite o maior ângulo de visão no estúdio. Para criar uma sensação maior de espaço, a cabeça do personagem deve estar próxima à parte superior da tela.
No Plano Geral, PG ou Long Shot – L.S, mostra o personagem de corpo inteiro. Ao enquadrar o ator, é muito importante deixar um pouco de espaço acima da cabeça e abaixo dos pés, pois, de um modo geral, as câmeras de vídeo e de televisão apresentam uma perda de cerca de dez por cento do asssunto enquadrado, ou seja, a imagem gravada na fita é um pouco menor do que a indicada no visor.
O Plano Conjunto – PC ou Médium Long Shot - M.L.S, corta o personagem na altura dos joelhos ou um pouco abaixo.
O Plano Médio – PM ou Médium Shot – M.S, mostra o ator da cintura para cima.
O Primeiro Plano, PP ou Médium Close-Up – M.C.U, corta o ator na altura do busto. Muito utilizado durante entrevistas e diálogos.
O Primeiríssimo plano, PPP ou Close-Up – C.U, mostra apenas a cabeça do ator.
O Plano Detalhe, PD ou Extreme Close-Up – E.C.U, mostra apenas uma parte do rosto.
A câmera possui dois movimentos: a Panorâmica e o Travelling. A Panorâmica (PAN), é o movimento em que a câmera gira ao redor de um eixo imaginário qualquer. Existe uma forma convencional para realizar a panorâmica: com a câmera fixa, grava-se os primeiros quatro ou cinco segundos deum quadro parado. Em seguida, sem interromper a gravação gira-se a câmera e com velocidade constante até o enquadramento onde a PAN deve terminar. Nesta posição, grava-se mais quatro ou cinco segundos.
Ao realizar, uma gravação em vídeo, o tempo dos planos fixos, no início e no final da PAN, deve ser maior de uma filmadora de cinema, os mecanismos internos de uma camcorder demoram cerca de um segundo para começar a gravar depois que se pressiona o gatilho. Quando se grava em vídeo aconselha-se a disparar o gatilho cinco segundos, ou mais, antes do início da ação.
No roteiro, a panorâmica horizontal é indicada como PAN-H e a vertical é representada por PAN-V ou TILT. A panorâmica é o movimento da câmera no qual esta gira em torno de qualquer eixo fixo imaginário. Para maior estabilidade é bom que a câmera esteja apoiada no lado direito do rosto, que os olhos estejam bem encaixados no visor e que o braço direito sustente-se no corpo do operador da câmera. A panorâmica é utilizada para mostrar ao espectador imagens que não podem ser exibidas em sua totalidade, com apenas um único enquadramento.
Existe um tipo especial de panorâmica conhecido como Chicote (WHIP PAN), no qual o movimento da Pan é muito rápido e a imagem fica embaralhada. O Chicote pode ser usado como plano de ligação entre cenas de briga. Para filmar ou gravar um chicote, basta apenas disparar a câmera, girando-a, de modo que as imagens fiquem confusas e não identificáveis. Outro movimento da câmera é o travelling, em inglês, travel quer dizer viajar ou andar. O Travelling é o movimento no qual a câmera se desloca em qualquer direção. Pode ser usado para mostrar detalhes tridimensionais de um objeto estático. O travelling pode ser feito com a câmera na mão. Em um roteiro, a palavra travelling é representada por TRAV. Outro mecanismo especial é o carro ou DOLLY, em inglês, ele permite um deslocamento horizontal, pode improvisar o movimento de Dolly com uma cadeira de escritório com rodas.
Para evitar a instabilidade da imagem, pode-se utilizar o STEADICAM, equipamento sofisticado que mantém a estabilidade da câmera. O travelling permite o acompanhamento dos objetos em movimento. Além da PAN e do TRAV, existe também o movimento da ZOOM, que não depende do deslocamento físico da câmera, e sim da variação do ângulo de visão da objetiva. Quando o movimento de zoom sai de um enquadramento mais aberto para outro mais fechado, tem-se o zoom in. Já o movimento contrário do ângulo mais fechado para o enquadramento mais aberto é o zoom out.
O Zoom in é utilizado para mostrar ao espectador um detalhe específico da cena. O Zoom out pode ser utilizado para mostrar elementos importantes existentes no cenário, fundamentais para a ação. Existem alguns procedimentos que devem ser observados pelo operador de vídeo: gravar cada plano com duração máxima de trinta segundos; alterar a posição da câmera, a cada mudança de plano; na gravação de uma panorâmica, usar do dobro do tempo gasto com o olhar normal; evitar o uso excessivo da zoom; ensaiar cada movimento antes da gravação, a fim de evitar enquadramentos perdidos; planejar antes de qualquer gravação, a decupagem das cenas.
O corte é a maneira mais simples de realizar a passagem de um plano a outro. O FADE, é a clareação de uma imagem. A clareação corresponde ao Fade in, que é o aparecimento gradual da imagem a partir de uma tela escura. Já o Fade Out é o escurecimento da imagem, até que a tela escureça totalmente. O Fade, como recurso de linguagem visual, é utilizado para indicar longas passagens de tempo de cenário. A passagem da infância para a adolescência pode ser indicada através de um fade out encadeado com um fade in. Esta associação visual escurecimento/clareação funciona como a cortina do teatro.
Da mesma forma como o fade foi utilizado como indicação de passagem de tempo, pode-se utilizá-lo também para indicar uma mudança de cenário. No cinema, o fade veio substituir a antiga “cortina”, mais conhecida em vídeo como Wipe, que é um efeito visual onde uma superfície negra “varre” a tela, cobrindo-a totalmente. O Wipe é uma transição entre planos que servem para indicar passagens de tempo ou mudança de cenário. Outra maneira de demonstrar passagem de tempo é o Dissolve ou Fusão, que é um efeito visual onde uma imagem vai desaparecendo, ao mesmo tempo em que outra vai surgindo. O Dissolve é utilizado para indicar pequenas alterações temporais ou rápidas mudanças de cenário. Também pode ser usado como mero efeito visual, servindo apenas para interligar planos de uma mesma cena, proporcionando ao espectador uma transição suave e agradável. O Dissolve também é indicado para mudança temporal, já a Fusão serve para indicar passagem da normalidade para estados emocionais afetados ou de caráter psíquico.
A Superposição Sobreposição ou Sobre-impressão é o resultado da mixagem de imagens diferentes que aparecem uma sobre a outra, produzindo como efeito visual um dissolve incompleto. A transição entre os planos também pode ser feita através da desfocagem da objetiva. Por outro lado, a tela dividida (Split Screen), pode servir para interligar acontecimentos, porém separados pela distância, como por exemplo, uma conversa telefônica. Existe também o efeito especial conhecido como Máscara, utilizado para criar sensação de que o olho do personagem aproxima-se bastante de alguns objetos.
Em relação à velocidade da imagem, existem três tipos de efeitos: a câmera lenta (Slow Motion), a câmera rápida (Quick Motion) e o Congelamento (Freeze). A câmera lenta é utilizada para intensificar a ação dramática que seriam impossíveis de visualizar com a velocidade da imagem no tempo real. A câmera rápida é usada para provocar risos, pois a aceleração do movimento real produz um clima cômico. Já o Congelamento ou Freeze, serve para chamar a atenção do espectador para um detalhe importante do movimento.
São três as diferenças físicas da linguagem do cinema e da TV: O tamanho da tela; a luminosidade do ambiente; a resolução da imagem. A imagem de cinema é projetada em grandes telas, já a imagem de TV, utiliza telas pequenas.
Um plano geral na televisão não possui o mesmo impacto visual de um GPG no cinema. É por este motivo que os grandes planos gerais do cinema não são usados em televisão. Os filmes de cinema são realizados para a projeção em recintos escuros, já a televisão em ambientes iluminados. A resolução da imagem em um aparelho de TV é muito inferior à da imagem cinematográfica, o que determina um diferente grau de concentração do público.
No capítulo 3, as idéias-roteiro também podem surgir dos gestos, de uma palavra solta, mas não adianta apenas ter a idéia. É preciso que se fique envolvido por ela, que ela passe a ser incorporada ao dia-a-dia.
A partir do momento que se tem a idéia e resolve-se escrevê-la, o roteiro começa a nascer. Se ela puder ser resumida em algumas linhas, tem-se a Story-Line, ou seja, alguma coisa mais ou menos parecida com aquilo que se vê escrito no jornal, na hora de escolher um filme para ir ao cinema. Deve ser sucinta, rápida e objetiva, e também elementos importantes como: apresentação, desenvolvimento, solução do conflito. Quando se deseja detalhar mais a estória sob a forma de texto, tem-se a Sinopse e o Argumento. A diferença é que o argumento apresenta mais informações do que a sinopse, mas ambos apresentam um resumo da estória e detalhes específicos sobre os acontecimentos, cenários, locações e personagens.
A Sinopse e o Argumento são textos descritivos e narrativos convencionais, são textos que descrevem o cenário e a ação, sem introduzir a divisão de planos, enquadramento e a movimentação da câmera. O rascunho com a divisão do enredo em planos é conhecido como Estrutura. Após a estrutura, pode-se escrever o Primeiro Tratamento, acrescentando-se diálogos às cenas.
A elaboração de um roteiro cinematográfico se dá da seguinte forma: uma sinopse de 20 páginas, um argumento de mais ou menos 50 páginas, um primeiro tratamento já com a planificação e diálogos e um roteiro técnico de cerca de 300 páginas. O roteiro é constituído por 120 páginas e uma média de 500 tomadas, segundo Alberto Cavalcanti.
O roteiro final pode ter qualquer forma possível. O importante é que sirva de guia para as gravações ou filmagens. Não é muito difícil escrever o primeiro roteiro, o difícil é escrever o segundo depois do primeiro ter sido ignorado ou rejeitado. Os que ficam são aqueles capazes de suportar a rejeição.
O objetivo é demonstrar como é o processo de elaboração de um roteiro técnico, a partir de uma story-line.
A partir de uma idéia central, escreve-se a story-line, que é a síntese da sinopse. A Story-line pode ter de 1 a 6 linhas e deve resumir as três etapas principais da estória: apresentação, desenvolvimento e a conclusão do incidente. É necessário prestar atenção na apresentação, desenvolvimento e solução, caso contrário, corre o risco de escrever uma story-line incompleta e vaga.
A sinopse é uma narração breve da estória, e não deve ser escrita sob forma poética, já o argumento é uma narração maior do que a sinopse e contém mais informações e detalhes.
Ambos devem enfocar: época, lugar e cenário, eixo de ação dramática, perfil psicológico dos personagens.
O roteiro é um texto com a descrição detalhada das cenas, diálogos de vídeo ou de filme. Sua função é orientar a equipe durante as gravações ou filmagens. O roteiro técnico deve conter: número do plano, cabeçalho cênico, posição da câmera, forma de mudar de um plano para outro, material descritivo da ação, os elementos da imagem, movimento de câmera. Deverão estar em letras maiúsculas (caixa alta): o nome dos personagens, o cabeçalho cênico, posição e o movimento da câmera.
O roteiro é a forma particular de escrita, bem diferente da convencional narrativa literária. O roteiro de um programa para a televisão apresenta o texto subdividido em cenas e diálogos. Em um roteiro de TV, a decupagem não é detalhada e o texto apresenta uma certa semelhança com o roteiro de uma peça de teatro. Este fato deve-se ao processo de produção industrial das emissoras de TV comerciais.
Para o realizador de vídeo que trabalha com pequenas equipes, e que pretende orientar-se através de um texto com planos decupados, aconselha-se a utilização de um roteiro técnico mais simplificado.
O Story-board é uma das melhores maneiras de se apresentar um roteiro, pois, em vez de palavras, utilizam-se imagens. A panorâmica e o travelling sçao representados através de setas indicando o enquadramento final.
No capítulo 4, existem determinadas técnicas utilizadas para criar uma narrativa visual lógica, clara e facilmente entendida pelo público em geral. Estes procedimentos estão relacionados com: as regras de continuidade, as mudanças de angulação da câmera, os cortes e algumas normas básicas de composição e enquadramento.
Continuidade é o encadeamento lógico e suave dos planos de um filme ou vídeo, que produz sensação de que o enredo acontece de forma linear. As transições entre os planos devem ser lógicas e racionais. A variação brusca na iluminação da cena pode desviar a atenção do público. É preciso que o operador de vídeo preste atenção à variação de luz nas gravações externas ao longo do dia, examinando os ajustes necessários para que não ocorram diferenças no tom das cores.
A continuidade de conteúdo diz respeito a qualquer mudança na fisionomia ou na roupa dos personagens, que devem permanecer iguais ao mudar de plano em uma cena. É preciso muita atenção quando se gravam planos de uma mesma cena em momentos diferentes.
Na continuidade de posição, é possível também que se esqueça a posição dos atores durante a gravação de uma cena. Deve-se tomar muito cuidado com a posição da câmera em relação aos atores.
Na continuidade de movimento, deve-se prestar atenção ao deslocamento dos objetos e personagens em cena. A regra básica, é que seja mantida a regra campo e o contracampo.
A angulação que a câmera assume pode ser utilizada para intensificar o conteúdo dramático de uma cena. Existem três ângulos associados com altura da câmera em relação ao cenário: câmera normal, câmera alta ou Plongee e câmera baixa ou Contre-plongee. A posição mais comum é aquela na qual aponta para a cena com objetiva paralela a uma superfície plana horizontal, enquadrando o cenário de frente, como o olhar normal. Na posição câmera alta, a objetiva enquadra os personagens de cima para baixo. A câmera baixa, valoriza o assunto enquadrado, colocando o ator em cena em condição de superioridade. A câmera alta, é usada para desvalorizar o assunto, colocando o personagem em posição de inferioridade.
O corte é uma forma de transição de planos na qual, junta-se a última imagem de um plano à primeira imagem do plano seguinte.
O corte durante um movimento contínuo, é em geral, corte no instante em que termina um determinado movimento da totalidade da ação. De um modo geral, o corte deve ser feito no fim ou começo do movimento.
Os cortes também podem ser utilizados para reduzir o tempo real d euma ação, evitando que uma cena exiba pormenores do movimento desnecessário, tornando-a prolongada. Ao contrário do corte utilizado para reduzir o tempo, é possível prolongar o tempo através de cenas com duração maior do que a realidade.
No corte com modificação do tamanho da imagem, de um modo geral, deve-se realizar mudanças de enquadramento quando se corta sem alterar a posição da câmera em relação ao cenário.
No corte com modificação do ângulo da imagem, existe uma regra conhecida como “regra dos 30” que recomenda mudanças de plano quando se desloca a câmera sem alterar o quadro.
Plano de corte é um plano inserido no meio de uma cena principal, cuja função é chamar atenção para algum detalhe da cena. O plano de corte close é conhecido como CUT In, pois está relacionado com ação. Por outro lado, se o plano de corte estiver relacionado com outra ação que não esteja ligada à ação central, tem-se o CUT Away.
Os planos CUT In e CUT Away, são utilizados para ritmar a narrativa, resolver problemas de edição. Aconselha-se gravar sempre muitos planos de corte da ação e do cenário, com objetivo de facilitar a edição.
O objetivo do corte de choque, é provocar um susto repentino no espectador.
É a reunião de vários planos curtos do mesmo assunto, porém gravados com alteração do enquadramento inicial. Cada plano é um take mais aproximado do objeto.
O corte de salto é de forte impacto visual, pois pega o espectador desprevenido, além de proporcionar uma variação de enquadramento muito rápida.
É o resultado da combinação das sombras, luzes, linhas, massas e cores dos elementos existentes no quadro. A composição é uma questão subjetiva, pois muitas vezes um enquadramento mal composto pode servir para intensificar o ponto de vista dramático da estória.
Os fatores que podem influenciar a composição são: áreas luminosas; objetos em foco; objetos para onde se dirigem as linhas mais fortes; objetos e pessoas colocados em primeiro plano.
Os olhos do personagem devem ficar próximos à altura de 2/3 do quadro, a partir da base inferior. Se os olhos dos atores estiverem localizados no meio do quadro, vai sobrar um espaço vazio acima da cabeça do personagem. Em cenários com fundo repleto de detalhes, esta regra pode não ter validade.
Em relação à linha do horizonte, a regra dos terços também pode ser aplicada. Costuma-se posicionar o horizonte na altura do terço superior ou do terço inferior do quadro. Deve-se evitar simetria. A composição de um quadro depende muito do ponto de vista do diretor. Antes de realizar um vídeo, deve-se estudar bem a área onde a ação vai ser gravada, levando-se em conta, a posição e o número de personagens, a objetiva e a movimentação da câmera.
A câmera pode assumir dois pontos de vista: o objetivo e o subjetivo. No objetivo, a ação assume o olhar de um observador convencional, já o subjetivo ou plano subjetivo, adquire o olhar de algum dos atores.
O grande mérito deste livro é trazer a riqueza do vídeo que reside na possibilidade de estimular a percepção por vários canais e assim, poder envolver e estabelecer contatos mesmo com aqueles que aparentemente não conseguem acompanhar o fluxo do raciocínio verbal. Quando pensamos as possibilidades do vídeo levamos em conta o seu modo de ser, ou seja, linguagem que incorpora vários códigos e que por isso mesmo, estimula simultaneamente vários sentidos.

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