domingo, 16 de maio de 2010

Sobre alguns mitos do “jornalismo cidadão”

De acordo com Sylvia Moretzsohn, o mito da tecnologia redentora, é que nenhuma tecnologia tecnologia é capaz de, por si, alterar as relações sociais; pelo contrário, e como a própria experiência do rádio o demonstra, são as relações sociais, a luta política, os conflitos e contradições historicamente determinados que vão conformar a utilização dessa tecnologia.
No campo da comunicação, o “movimento Wiki” é a expressão mais evidente dessa tendência: um conjunto de projetos voltado para a produção e disseminação de informações em várias línguas, a partir da colaboração voluntária de qualquer um. Não se explica a opção pela palavra “wiki”, referida apenas à sua origem havaiana, que significaria “rápido”: essa agilidade, característica da internet, é o que marca o processo de edição coletiva de documentos em hipertexto, sem que os conteúdos precisem ser revisados antes da publicação.
A condição para tornar-se uma referência no meio virtual ou para influenciar o rumo do noticiário não viria, como deveria ser óbvio, “do conhecimento de que os seus autores gozam por razões exteriores à blogosfera, como políticos, comentadores, colunistas, etc.” - como afirma, por exemplo, Moreira (2005) –, mas da competência e do empenho do indivíduo.
O “jornalismo participativo” concentra-se no confronto entre os jor-nalistas (confinados a procedimentos rígidos e orgulhosos de seu privilégio como detentores da informação) e o público (isto é, a audiência), desinteressado, ansioso pela verdade e agora possuidor dos meios para obtê-la e revelá-la.

O cidadão “digital”: ainda uma fonte

O trabalho jornalístico é o exercício de uma profissão que implica a responsabilidade na apuração e divulgação das notícias e exige uma qualificação capaz de dar ao profissional condições de mover-se nesse terreno conflituoso em que tantos interesses disputam o espaço midiático – e o direito constitucional à liberdade de expressão e de comunicação, que é de todos, deve ser incentivado e certamente se amplia significativamente com o acesso às novas tecnologias.
O testemunho do cidadão capaz de lidar com a tecnologia digital ganha mais relevância, porém como fonte a ser adequadamente checada – um processo que se complica ainda mais diante da profusão da oferta; e o jornalismo “as you like it” – isto é, a naturalização do jornalismo – tende à alegoria imaginada por Soler (apud Pinto, 2005b).
Pinto (2005) comenta: “o que, de fato, Soler propõe à nossa reflexão não é tanto o problema da informação instantânea, mas o da informação inútil”.

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